quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Clube da Esquina



Passadas quatro décadas, o Clube da Esquina é hoje um marco da cultura brasileira. Não é fácil entender a dimensão da obra de Milton Nascimento, Lô Borges, Fernando Brant, Beto Guedes, Toninho Horta e outros músicos e poetas. É importante a ligação da obra com o seu tempo - as marcas políticas e estéticas - e também sua porção livre e atemporal, que se relaciona com a dimensão filosófica e poética das canções. O esforço de pesquisar e entender as duas dimensões desse movimento musical é que em um trabalho acadêmico de uma dissertação de mestrado da UFMG, surge um ensaio criativo em que reúne erudição, prazer e sentimento. Dessa dissertação nasce o livro: Som imaginário- A reinvenção da cidade do Clube da Esquina, de Bruno Viveiros Martins. O primeiro impacto das canções do Clube da Esquina, foi artístico. Com sonoridade om única, que agregava elementos populares e eruditos, jazz e rock, vazado por uma poética sofisticada, que parecia romper com o coloquialismo conquistado pela bossa nova para propor novas metáforas, as músicas se tornaram em seguida plataforma de uma geração, um modo de sensibilidade. Para isso, se relacionava com o contexto político de ausência de liberdade e cares de renovação utópica soprados pelos movimentos herdeiros de 1968. Se as canções emocionavam pela beleza, logo se mostravam argutas pelas estratégias artísticas. Tratava-se de uma música diferente, que dizia coisas diferentes. O método de Bruno Viveiros Martins percebe essa novidade e extrai dela todo o conteúdo explicativo possível. Com o objetivo de entender o sentido histórico da experiência do Clube da Esquina, o autor dividiu sua pesquisa em três partes, que se articulam internamente. Na primeira, analisa o clube como obra coletiva que propõe um olhar sobre a realidade que o cerca (espécie de biografia intelectual de uma geração, recupera elementos da história de Belo Horizonte ( a rica vida cultural do périodo ), os clubes com seus limites de classe, os inferninhos, os bares onde se tocava jazz. O autor também recupera informações sobrea música colonial mineira, compara o projeto coletivo dos discos do Beatles e The Who com o primeiro disco do Clube da Esquina, volta no tempo do gosto do mineiro com o cinema europeu, chega aos bares que ainda hoje definem o jeito de se relacionar tendo a rua como cenário. Com enfoque histórico, busca na ligação com o ouro e com as viagens algumas características atávicas que se mostram nas canções: o gosto de sonhar o destino da política, o prazer do compartilhamento. A segunda parte tem como tema a amizade. Diferentemente do momento atual, em que a amizade aparece à intimidade ou à família, para os integrantes do Clube em seu périplo pelas esquinas, trata-se de um fenômeno político. A amizade realiza, na cidade ,na praça republicana, o propósito de participar da vida, de interferir em direção à maior liberdade e fraternidade. Uma reinvidicação da política com o objetivo de melhorar a vida na cidade. Bruno Viveiros Martins busca na literatura outros exemplos da construção política da amizade, trazendo para o mesmo contexto o quarteto de Encontro marcado, de Fernando Sabino, o círculo complexo das figuras humanas e ideológicas de O amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos. São romances da procura e do encontro, da amizade e da política, do aperto de contigências e das promessas de superação. O historiador sem perder a violência do momento pós o AI-5, dialoga com Maquiavel (fortuna), La Boetie, Montaigne e Richard Sennet. O última parte mostra como as canções, depois de viajarem pelas cidades e amizades, vão compondo um panorama que aponta para a construção da cidade ideal, uma cidade que é também obra de arte . Nesse projeto, surgem junto a Belo Horizonte outros sonhos de cidade, na busca de um ponto de encontro entre o projeto político e o pensamento estético. Que as músicas do Clube da Esquina ainda encantem é sinal duplo de sua pertinência: são belas e são necessárias. As canções do Clube da Esquina são um convite à beleza que trazem junto o compromisso com a política.

Obs: fonte: Caderno Pensar- Jornal Estado de Minas.

3 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo texto!
Também fiz um trabalho sobre o clube da esquina que ficou muito legal. Na época entrevistei muita gente interessante:Fernando Brant, Lô Borges e outros.
Bjs querida

Cris França disse...

Oi minha querida...

que post mais esclarecedor, aprendi nesta tua aula por aqui, e adorei...

E que dizer que já escolheu o vestido da mãe do noivo, nem preciso ver para saber que vai estar linda! a felicidade é o melhor traje...

Um beijo no seu coração !

Regina disse...

Este clube é, sem dúvida, "recheado" de grandes mestres...

Beijos!!